Neste artigo vamos entender sobre xadrez e sonhos. Nestes últimos 30 anos não lembro ter ficado um dia em minha vida sem jogar uma partida de xadrez ou resolver algum problema enxadrístico. Sempre tenho uma posição a resolver no meu tabuleiro. Normalmente resolvo, mas algumas são de nível superior onde penso durante 50min ou mais e mesmo assim não acho a solução acabando deixando-o para outro dia.
Pela manhã ao acordar e olhar novamente o tabuleiro com a posição que não havia resolvido no dia anterior eu de imediato a resolvo sem ao menos pensar, em questão de segundo a resposta vem clarificada, limpa e pura, como é o jogo de xadrez. Estes fatos comentei com um enxadrista profissional, Paulo Sergio Oliveira e Castro (1949-2019), hexacampeão gaúcho de xadrez, que me respondeu dizendo que o cérebro nunca dorme, ele sonha com o problema até resolve-lo.
O objetivo deste artigo é responder esta questão utilizando a Psicanálise desenvolvida por Freud e Jung. De maneira reducionista e seguindo a afirmação do mestre Paulo Sergio, a solução do problema de xadrez foi realizada no inconsciente pois foi no período do sono que ele foi resolvido e a via para que chegasse ao nosso consciente foi o sonho.
Xadrez e sonhos e a descoberta dos mecanismos psicobiológicos
Em 2000, houve um grande avanço na área psicanalítica, Eric Kandel (1929), psiquiatra e neurocientista austríaco, ganhou o Prêmio Nobel por seu trabalho sobre aprendizado e memória, onde demonstrou a existência do inconsciente. Seu objetivo era encontrar o ego, o id e o superego. Acabou encontrando em cada célula do nosso cérebro, e provou a existência do inconsciente. Neste momento a psicanálise passou a ter um método quantitativo e também testável.
“No início da década de 1980, a neurociência cognitiva incorporou a biologia molecular, o que resultou numa nova ciência da mente – a biologia molecular da cognição -, que nos permitiu explorar em nível molecular nossos processos mentais: o modo como pensamos, sentimos, aprendemos e lembramos.”
Esta descoberta colocou a psicanálise como ciência, fazendo com que muitos psicólogos e psiquiatras revisassem suas ideias. A máxima de Jacques-Alain Miller (1944) que diz que o inconsciente só existe na clínica foi descontruída. Miller, casado com a filha de Jaques Lacan, é certamente o único que entendeu Lacan na sua essência e o tornou legível.
Sonhos para Freud e Jung
Freud e Jung tinham posições divergentes, mas concordavam que os sonhos se originam no inconsciente. O sonho é uma das manifestações do Inconsciente, afirmavam. Para Freud o sonho não revela, na verdade esconde. É “uma realização (disfarçada) de um desejo (reprimido)” e esse desejo é sempre sexual. Grande parte de sua autoanálise foi através dos sonhos. Seu livro “A interpretação dos sonhos”, publicado em 1900 foi inovador demonstrando todos os aspectos do sonho.
Para Jung toda a imagem tem uma verdade. O sonho não é uma espécie de codificação que segue um padrão e que pode ser decifrado através de um dicionário para a tradução de símbolos. É, sim, uma expressão integral, importante e pessoal do inconsciente particular de cada um quanto qualquer outro fenômeno vinculado ao indivíduo.
Conhecemos o inconsciente e com ele nos comunicamos, é uma via de dois sentidos pavimentada para ser percorrida pelos nossos sonhos. Os ditos “dicionários dos sonhos” estão todos incorretos. Lacan utiliza o xadrez para melhor esclarecer: “Para Lacan, a realidade dos seres humanos é constituída por três níveis entrelaçados: o simbólico, o imaginário e o real.
O jogo do xadrez e sonhos
Essa tríade pode ser precisamente ilustrada pelo jogo de xadrez. As regras que temos de seguir para jogar são sua dimensão simbólica: do ponto de vista simbólico puramente formal, ‘cavalo’ é definido apenas pelos movimentos que essa figura pode fazer.
Esse nível é claramente diferente do imaginário, a saber, o modo como as diferentes peças são moldadas e caracterizadas por seus nomes (rei, rainha, cavalo), e é fácil imaginar um jogo com as mesmas regras, mas com um imaginário diferente, em que esta figura seria chamada de ‘mensageiro’, ou ‘corredor’, ou de qualquer outro nome.
Por fim, o real é toda a série complexa de circunstâncias contingentes que afetam o curso do jogo: a inteligência dos jogadores, os acontecimentos imprevisíveis que podem confundir um jogador ou encerrar imediatamente o jogo.
O inconsciente tornando-se real e criativo
Os sonhos certamente não solucionam somente problemas de xadrez, mas ocorreram em outros casos históricos famosos, como a descoberta da molécula do benzeno , realizado pelo químico alemão Friedrich Kekulé Von Stradonitz(1829-1896) , que descobriu a estrutura do benzeno através de um sonho , onde que ele via os átomos como que dançando na sua frente, e os grupos menores ficavam mais atrás.
Então, ele distinguiu cadeias longas girando e torcendo-se como cobras. De repente, “uma das cobras mordeu sua própria cauda”. Quando ele acordou passou a colocar esse sonho à prova no mundo real: a disposição dos átomos na molécula do benzeno seria semelhante à daquela cobra que mordia a sua cauda, formando um ciclo de forma hexagonal com seis carbonos e seis hidrogênios.
Outro exemplo é mostrado no filme “O homem que viu o infinito”, mostra o matemático indiano Srinivasa Ramanujan (1887-1920) cuja as teorias até hoje vêm sendo comprovadas e aplicadas no desenvolvimento de computadores, na economia e no estudo dos buracos negros, cujas fórmulas matemáticas avançadas para aquela época, afirmava que elas chegavam a sua mente através dos sonhos, como uma revelação divina.
Conclusão sobre xadrez e sonhos
Atualmente a epistemologia (teoria do conhecimento) leva em conta os aspectos do inconsciente. Diagrama No diagrama a seguir encontra-se um problema de xadrez. Monte-o no tabuleiro pois assim terás uma visão espacial, diferente da plana neste texto e tente resolver em 50min, caso não resolva deixe para manhã seguinte e verás a solução de imediato, atestando o objetivo deste texto.
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
- E R I C R. K A N D E L, Em busca da memória
- A COMUNICAÇÃO NA CADEIA SIGNIFICANTE DE JACQUES LACAN, VINÍCIUS BORBA DUTRA, PORTO ALEGRE 2017
O presente artigo foi escrito por Emilio Mansur. Engenheiro Civil-Eletricista, pós- graduado em ENGENHARIA DE BARRAGENS (PUC- MINAS), EDUCAÇÃO HIBRIDA (UNIAMÉRICA), RECURSOS HUMANOS E MARKETING (URCAMP), ESTRUTURAS DE CONCRETO(INBEC), PROFESSOR UNIVERSITÁRIO E estudante de psicanálise pelo Instituto de Psicanálise Clínica (IBPC), contato: [email protected]
4 thoughts on “Xadrez e Sonhos: pensando esta conexão”
Sonhos possuem várias simbologias, assim como o sono! Para a Medicina, o sono é restaurador da fisiologia física e, mesmo não lembrados: os sonhos, eles aconteceram, porque o cérebro “não desliga” e é como uma espécie de edição do que vivemos “acordados”! Na época das gravações em “rolos”, os vídeos, ouvia-se que o Alzheimer era a memória chegando no limite de gravações, razão pela qual o que era vivido recentemente, “se perdia” na memória! O HD nitidamente inspirado no cérebro, humano, onde quando o notebook fica “lento”, “limpamos a memória” coincidindo com a edição feita, muitas vezes, no processo de sonhar! Já para os Espiritualistas, o sono é o estágio diário para o falecimento, afinal por analogia é o que o recém nascido deve pensar ao chorar: deixando de se alimentar pela “sonda materna”, receber o oxigênio pela mãe! De uma hora para outra, aquelas pessoas ali, “recepcionando”, sentindo o campo magnético tão perto e direto, afinal mãos emitem energia direto! Voltando ao sono, é nossa Alma/Espírito que como o sonambulismo fica circulando e encontrando com quem não está mais presencialmente, fisico, entre nós, mais prontos a nos ajudar! Se, encarnados, poderiam em partidas de xadrez, ganharem as partidas, na nova dimensão espiritual nos mostram o caminho para a vitória!
Muito interessante o seu comentário. Parabéns
Maravilhoso artigo! Parabéns!
Obrigado. Abraço