conceito de feminino em psicanálise e sociologia

O que é Feminino na sociologia e psicanálise

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O que é o feminino, qual o sentido deste conceito e sua história, pelo viés do movimento da sociologia e da psicanálise? Vamos ver como o conceito de feminino era anteriormente considerado, como era a vista a sexualidade da mulher e quais as mudanças no significado de feminino nas últimas décadas.

O presente texto tem por finalidade apresentar a sexualidade feminina em torno do tema mulher-mãe nos séculos XVII e XVIII e de que forma a Igreja Católica, o Estado e a Medicina como via repressora, estabeleceram ideias, socialmente creditadas à mulher em relação à sua sexualidade.

O aporte teórico partiu da leitura dois artigos intitulados

  • A SEXUALIDADE FEMININA E A PSICANÁLISE: ROMPENDO AS AMARRAS DA MORAL SEXUAL CRISTÃ E DO SEXO COMO REPRODUÇÃO, escrito por Carolina Menegon e Enio Waldir da Silva e
  • SEXUALIDADE FEMININA:ASPECTOS CULTURAIS DA REPRESSÃO SEXUAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS, escrito por Andiara Loeffler Gezoni.

O feminino e o movimento sociológico

Silva e Menegon (2001), em seu artigo, afirmam que a sexualidade é uma dimensão humana e seu conceito é abrangente, pois ela está intimamente ligada à vida, ao amor, à expressão subjetiva da autonomia e da beleza que o próprio ser humano traz em sua originalidade como pessoa.

Conclui-se que o significado tem a ver com a individualidade de cada pessoa.

Sua significação tem a ver com os sentidos atribuídos individualmente pelo próprio ser e se fundamentam essencialmente nos desejos e escolhas afetivas e na forma como cada um lida com sua própria existência, seus preceitos morais e espirituais.

Ainda de acordo com os autores, a sexualidade é parte integrante da condição humana, e a sexualidade feminina nas suas especificidades sociais e históricas, constituem um ponto importante na história da humanidade.

A sexualidade e o feminino

Ao ler o primeiro texto, pode-se depreender que as sociedades se formaram através de discursos, de regras, de normas e de tradições culturais. Assim, em meados do século XVIII , segundo Foucault (1988), surge um certo encorajamento político para se falar de sexo. Obviamente que mecanismos de controle também foram criados para observar e controlar a natalidade, a mortalidade e o estado de saúde.

Com isso o Estado podia controlar questões atribuídas ao sexo. A Igreja Católica exercia grande poder- repressor- sobre a sexualidade feminina. Os padres e vigários pregavam a necessidade de haver uma aversão ao sexo, o que negava desde então, à mulher, o sexo ligado ao prazer, senão apenas para a procriação.

O prazer relacionado ao sexo estava relacionado entre o pecado e a indecência. A partir do século XX, a psicanálise provocou uma nova ideia de sexualidade, considerando o prazer em primeiro lugar e a reprodução logo após. O movimento feminista, bem como o advento de métodos contraceptivos foram fundamentais para avançar na luta pela conquista da autonomia feminina.

Assim, depreende-se que sexualidade é um dispositivo histórico, construído de uma forma repressiva.

A repressão social e sexual

Moraes (2004) apresenta como exemplo de repressão, uma tese de Medicina defendida em 1915, com o título Educação Sexual da Mulher. De acordo com este autor a tese um inventário dos preconceitos e da ignorância a respeito da sexualidade, em especial, da feminina.

O médico, autor da tese, afirma que à exceção das ninfomaníacas, as mulheres são seres sem exaltação erótica, o que as torna essencialmente e biologicamente monogâmicas. Entende-se que ele defendia que as mulheres não podiam ter desejo e condenava todo o ato sexual desvinculado do fim reprodutivo.

Atualmente, com o advento da psicanálise e das lutas femininas, pode-se dizer que as marcas negativas da sedução estão sendo atenuadas. Anteriormente, a feminilidade estava constituída em torno da maternação. Pode-se registrar que o discurso freudiano desconstruiu a sexologia, quando desvinculou a sexualidade da lógica biológica da reprodução.

A visão de Freud sobre feminino e sexo

A ideia de mulher e do feminino imposto pela Igreja, pelo Estado e pela Medicina ao longo dos séculos XVII e XVIII, estava vinculada à realização da maternidade. As mulheres, ao se reconhecerem em seu direito à realização pessoal, (não na doação de si para os outros), mas uma forma de felicidade que se contraponha ao modelo cristão de bem ou mal.

Quando essas mulheres reconhecem seu direito e retiram-se do lugar da obediência usada pela Igreja como mecanismo de controle moral e se posicionam em um campo social individual e que as mantenha na busca constante do gozo por si, da realização e do desejo.

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    É importante fazer um aporte sobre o conceito de desejo para a psicanálise.

    FREUD (1917) afirma que o sujeito se mobiliza em busca do prazer ligado por uma força motriz ou pulsional na busca de satisfação, o que veio a chamar de libido. Agrega-se ainda que tão importante quanto a consciência, os processos inconscientes também regem o homem. Para afirmar os processos mentais inconscientes.

    Na vida contemporânea o sujeito é posto como um ser desejante o tempo todo: sapatos, roupas, celulares, amores, viagens e tudo o que o sonho de consumo pode oferecer. O prazer, neste caso, é algo de gozo efêmero, causando a falta, o vazio.

    Para a psicanálise essa falha, falta ou vaizio é caracterizada por uma força que mobiliza o sujeito em direção à vida, embora seja algo perseguido mas nunca suprido. Dessa forma, o desejo não se acaba e sempre retornará como falta, como vazio, num processo sem fim e incansável na busca pela perda, mesmo que o objeto desejado ou buscado viva no lugar do perdido, do não encontrado.

    Novas formas de ver a feminilidade

    Freud deparou-se com impasses em que o propósito da psicanalise assinala que esta não se empenha em descrever a mulher, mas investigá-la no seu tornar-se mulher.

    Este processo só pode ser reconhecido na sua singularidade, justamente porque são sujeitos norteados pelo desejo expressados no corpo e na história de vida e na cultura, de forma única.

    A maternidade, para Freud era um dos destinos da feminilidade, o que na contemporaneidade não é o que legitima o feminino. Na vida contemporânea, existe uma outra ideia de feminilidade; em que a mulher pode ser protagonista da própria história a partir das suas escolhas em um papel que ela vai se apropriando ao longo do seu percurso de inserção no mundo.

    VALENÇA ( 2003), aponta para o “tornar-se” mulher. A mulher contemporânea tem a maestria de seu corpo e é ela quem decide quando, como e com quem quer usufruir da sua sexualidade sem estar presa ao casamento ou à maternidade.

    Para este autor, a mulher, ao “exteriorizar-se” apresenta uma configuração estetizante e com isso, as referências de uma feminilidade fundamentada essencialmente na interioridade, marcada pelas normas sociais, na contemporaneidade, essas configurações se misturam, se apresentam transitórias e sem a necessidade de demarcar o feminino ou o masculino.

    Contudo, parece que a mulher atual carece de referências e por isso mesmo se experimenta e vai constituindo-se mulher na singularidade da sua feminilidade.

    O que é feminino hoje?

    A ciência contribui para que a mulher reconheça seus anseios. Ela pode ou não recorrer a procedimentos para sentir-se bem na própria pele. Com isso, também escolhe seus parceiros, decide pela maternação sozinha através de artificial ou como um parceiro ou parceira.

    Pode-se dizer que muitas encontram realização na maternidade e na oportunidade de exercer os cuidados maternos seja através de um filho gerado em seu ventre ou através de adoção. O importante é frisar que a felicidade incide naquilo que a mulher escolhe para si e na independência das suas ações reafirmadas por espaços em que é respeitada pelo seu trabalho e pela sua feminilidade.

    Pode-se depreender que apesar de ter sido subjugada nos séculos passados, a mulher soube lutar e compreender os desdobramentos que o feminino e o desejo lhe agregaram com o passar tempo. O desejo nem sempre está ligado à maternidade e apesar de Freud afirmar que o amor materno seria um ideal para conquistar a feminilidade, existe um movimento universal que sustenta o desejo como parte significativa da vida humana.

    Portanto, a mulher pode e deve fazer de seu corpo aquilo que lhe dá prazer. Sob o viés da psicanálise, o desejo está para além dos avanços ou do discurso da ciência, ele está na subjetividade do humano e instiga a dar-se a conhecer sempre mais.

    Referencial bibliográfico sobre o feminino

    A SEXUALIDADE FEMININA E A PSICANÁLISE: ROMPENDO AS AMARRAS DA MORAL SEXUAL CRISTÃ E DO SEXO COMO REPRODUÇÃO disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ Acesso em 10 de outubro de 2020; http://periodicos.pucminas.br/index.php/pretextos/article/view/15994/13638 Acesso em 10 de outubro de 2020.

    Sexualidade feminina: aspectos culturais da repressão sexual e suas consequências https://www.redepsi.com.br/2011/03/26/sexualidade-feminina-aspectos-culturais-da-repress-o-sexual-e-suas-consequencias/ Acesso em 05 fevereiro de 2021.

    Este conteúdo sobre o conceito de feminino, sua relação com o movimento sociológico e a psicanálisee foi escrito pela autora Cláudia Flores Rodrigues ([email protected]), Professora universitária, Mestre e Doutora em Educação (LP Saúde), residente em Porto Alegre (RS), aluna do curso de Psicanálise Clínica.

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