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Rotina: entendendo seu funcionamento em psicanálise

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A frase aparentemente simples “Na segunda-feira, a rotina recomeça” da música “A Rotina (Fim de Semana)” de Leandro & Leonardo, na verdade, encerra implicações mais complexas. Além da monotonia ou melancolia que pode sugerir para alguns, ela carrega consigo um significado mais profundo.

Ela sugere previsibilidade, consistência e bem-estar para o corpo e a mente. Essa sensação de previsibilidade é importante porque quando sabemos o que esperar, o estresse diminui, especialmente quando precisamos tomar decisões repentinas. Isso nos faz sentir seguros e no controle, algo vital para uma vida mais tranquila.

A Rotina em Perspectiva Psicanalítica: Uma Jornada de Exploração

À medida que mergulhamos na intersecção da rotina e da psicanálise, descobrimos um terreno rico e multifacetado, onde diversos pensadores e pesquisadores têm lançado luz sobre essa complexa relação. Eles nos convidam a olhar para além da aparente trivialidade da rotina e a considerar como ela ecoa nos recantos mais profundos do psiquismo ao longo do tempo.

Jacques Lacan enfatizando o “Real” também contribui para esse diálogo nos oferecendo uma perspectiva intrigante sobre a rotina. O “Real” é uma dimensão do mundo que é irracional e desconcertante, algo que não pode ser completamente aprisionado por palavras ou símbolos.

Dentro dessa estrutura, ela emerge como uma tentativa consciente de trazer ordem ao caos subjacente, como um esforço para encontrar previsibilidade em um cenário inerentemente turbulento.

Sigmund Freud e a Rotina como Estratégia de Equilíbrio

Os princípios freudianos, por outro lado, adicionam outra camada de compreensão à importância da rotina. O “princípio do prazer” de Freud, que postula que a mente busca gratificação imediata, pode ser ponderado pela rotina, que introduz uma sensação de ordem e segurança.

Nesse contexto, ela transcende a repetição mecânica e emerge como uma tentativa de enfrentar a ansiedade ao oferecer uma sensação de controle. Dito de outra forma: a rotina alivia a ansiedade ao promover um senso de controle.

O “princípio do prazer” freudiano indica que a mente busca gratificação imediata, enquanto ela contrabalança isso ao fornecer ordem e segurança.

Melanie Klein e a Rotina como uma Ferramenta de Navegação Emocional

A contribuição de Melanie Klein destaca ela como uma ferramenta de enfrentamento emocional. A “posição depressiva” de Klein nos lembra que as emoções nem sempre são unilaterais; ambivalência e tensão podem ser parte intrínseca da experiência. Sob essa luz, a rotina não é apenas uma série repetitiva de ações, mas um mecanismo complexo de enfrentamento emocional.

A perspectiva de Wilhelm Reich, seguidor de Freud, enfatiza como a rotina e os hábitos moldam o caráter. Ela não é apenas uma série de ações repetidas, mas um reflexo tangível das complexidades da mente humana. Por outro lado, Donald Winnicott introduz a noção de um “espaço potencial”, onde a transição suave entre os aspectos internos e externos da vida é facilitada pela rotina.

Conclusão

Nossa exploração das profundezas dela, através das lentes psicanalíticas, nos revela que sua importância transcende sua aparência. Ela envolve dimensões profundas dos processos mentais, proporcionando estrutura e abordando os desafios emocionais da vida cotidiana.

As teorias de autores como Freud, Lacan e Klein nos oferecem uma visão mais rica dessa complexa relação. Em última análise, a rotina transcende sua aparência comum, moldando nossa mentalidade e resiliência diante das complexidades da vida.

É uma ferramenta intrincada e sofisticada para enfrentar a incerteza, construindo ordem no tumulto da mente e da existência.

Este texto sobre Rotina foi escrito por Clandira Moreira: Psicanalista, Psicopedagoga, Pedagoga e Hipnoterapeuta. Facebook: www.facebook.com/clandira.moreira.

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