Narcisismo primário e narcisismo secundário

Narcisismo Primário e Secundário

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Neste artigo sobre Narcisismo Primário, Narcismo Secundário e Teoria das Pulsões, o autor Marcos Almeida relaciona estes conceitos de Freud, com base no texto freudiano Sobre o Narcisismo.

A Teoria das Pulsões e o Narcisismo Freud costumava dizer que “a Teoria das Pulsões é a nossa Mitologia” (Freud, ESB, Vol. XXII, pág. 119). O “mítico” é justificado por sua imaterialidade conceitual, sua nebulosa interface entre estruturas estudadas pela Psicanálise.

Porém, devido à sua complexidade e centralidade, este constructo teórico não pode ser desprezado por qualquer Psicanalista; tamanha sua influência à vida psíquica de qualquer indivíduo.

Em seu texto Sobre o Narcisismo- Uma Introdução (1914) (ESB, Vol. XIV, pág. 89), Freud define que o Narcisismo Primário é uma fase necessária do desenvolvimento da Libido entre o Auto Erotismo e o Amor Objetal.

O que é Narcismo Primário?

A criança ao nascer encontra-se em um estado de indiferenciação entre ela e o mundo. Todos os objetos, inclusive e principalmente sua mãe, fazem parte de si própria. Este estágio Auto Erótico dura poucas semanas pois logo começa a perceber, através de seu desconforto interno (fome, frio, calor, intensidade luminosa, ruídos abruptos), que estes estímulos insuportáveis são amainados por algo (na verdade alguém) que lhe socorre.

A consciência do outro (e de si) se dá através da falta que sente / percebe, sem poder dar conta do que se passa. O acolhimento que lhe é concedido (colo, afago, saciedade, etc) dá a criança a percepção de si, que ela tem contornos e pele, e de que está no centro do mundo (seu mundo) inaugura-se o Narcisismo Primário.

O que é Narcisismo Secundário

Em pouco tempo, as pulsões de autoconservação (Libido do Eu ou narcísica) e pulsões sexuais (Libido objetal) começam a se diferenciar. A criança passa a desejar o Seio e outros objetos externos que a satisfazem e vai de encontro a eles.

A Libido objetal, tal como Freud a define, passa a ser a carga de energia sexual (catexia) que como os pseudópodos de uma Ameba se dirigem ao objeto e depois recolhe-se novamente. Ocorre que este “Amor Objetal” precisa recompensar o Ego do indivíduo (satisfação narcísica).

E nem sempre isto é possível (aliás – quase nunca – a vida acontece onde falta algo), e ao frustrar-se em seus objetivos a pulsão é recolhida novamente ao Ego (Narcisismo Secundário).

Origem das Pulsões

Mas de onde vem a energia Pulsional que movimenta esta “máquina psíquica”? Aqui é conveniente destacar que Freud, em sua vasta obra de prospecção da mente profunda, usou a palavra “Instinkt”; como “Instinto” no sentido biológico animal, apenas em poucas ocasiões.

O termo mais usado foi “Trieb”, que pode melhor ser traduzido como “Impulso”, “Compulsão” ou mesmo “Pulsão”. (Vide o “Os Instintos e suas Vicissitudes” (Freud, ESB, Vol. XIV, pág. 137 – mais tarde traduzido como: “As Pulsões e seus Destinos”).

Por um descuido, a obra de Freud, traduzida primeiro do alemão para o inglês, tanto Trieb como Instinkt foram traduzidos como “Instinct” e depois para o português como “Instinto”. Isto causa, a uma leitura já nada simples de Freud, algumas dificuldades de interpretação e compreensão adicional aos leitores de língua portuguesa.

Se “Instinto” é a forma elementar dada pela condição biológica de qualquer ser vivo, Pulsão admite uma finalidade a este instinto.

Tipos de pulsão e relação com o Narcicismo Primário e Secundário

Com base corporal (daí a erogenicidade de partes do corpo como a boca e a pele nas fases iniciais de desenvolvimento do Ego) a Pulsão subdivide-se em dois grandes blocos:

  • Pulsões de Autoconservação (que dão luz à Libido Narcísica) e
  • Pulsões Sexuais (que estabelecem a Libido Objetal).

A Pulsão traz a complexidade de determinar os efeitos do direcionamento e eventual fixação da Libido, ou representação simbólica dela, ocorrida desde a terna infância, que sustentada em elementos (agora sim) instintuais primitivos, acaba sendo a força e a energia na qual este sujeito retornará, ou antes, nadará durante toda a vida.

A Pulsão é a energia que movimenta o Desejo.

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    O Desejo é por assim dizer, uma busca de satisfação, que pode estar associada a objetos concretos, mas que tem por base a Pulsão inconsciente, vinculada a esta representação simbólica impressa no psiquismo.

    O Desejo acaba nunca sendo satisfeito por completo e vem sempre associado a uma falta original, uma incompletude insolúvel à qual a Pulsão dá sua energia e transmutação saltando de objeto a objeto durante toda a vida do sujeito.

    A necessidade de satisfação imposta pelo Desejo, calcada na Pulsão, não é suprida facilmente como a que encontramos na vida biológica, por exemplo no instinto de sobrevivência diante da fome.

    A fome desencadeia no sujeito a busca por alimento, e seu suprimento é a satisfação plena, ainda que temporária, até novo ciclo fome-alimento-saciedade.

    Desejo, Narcisismo e Pulsão

    O Desejo vem ligado a uma falta indeterminada e interminável, vem ligado a um representante simbólico ideacional, e sua satisfação vai para além da própria necessidade. Na informação que nos dá Garcia-Roza “Esse desejo só pode ser pensado na sua relação com o desejo do outro e aquilo para o qual aponta não é o objeto empiricamente considerado, mas sua falta.

    De objeto em objeto, o desejo desliza como que numa série interminável, numa satisfação sempre adiada e nunca atingida”. (Garcia-Roza; Freud e o Inconsciente; pág. 139).

    Freud destacou em As Pulsões e seus Destinos que os destinos possíveis, isolados ou combinados, das Pulsões são:

    Deve ser destacado aqui que o destino da Pulsão, é melhor indicado como o destino do “representante ideativo da pulsão”.

    A Pulsão nunca se dá de forma isolada, ela somente apresenta-se (inconsciente e sempre inconscientemente) pelo seu representante ideativo, formado pelas fixações da Libido em fases primevas da constituição do Ser.

    Esta fixação ou “recalcamento primário” nada mais é do que as primeiras frustrações que o bebê narcisista tem ao perceber que afinal não tem tudo sob seu controle como onipotentemente pensava ter em princípio.

    Freud ainda destaca que a Pulsão é “um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam à mente” (Freud, ESB, Vol. XIV, pág. 142).

    E que suas características elementares são:

    • a Pressão (fator motor e quantidade de força / energia que mobiliza);
    • a Finalidade (que é sempre a satisfação pela eliminação do estado de estimulação em sua fonte);
    • o Objeto (que é a coisa em relação à qual a Pulsão é capaz de atingir a sua finalidade e que pode variar inúmeras vezes ao longo da vida); e
    • a Fonte (invariavelmente derivado de um processo somático que ocorre em um órgão ou parte do corpo). Além disso…

     

    Pulsões Sexuais, Pulsões do Ego e Narcisismo Primário

    Além disso, podem-se classificar as Pulsões em

    • Pulsões Sexuais e
    • Pulsões do Ego (auto conservacionistas).

    E, mais tarde (em Além do Princípio do Prazer – 1920), Freud classifica as Pulsões em Pulsões de Vida e Pulsões de Morte. Conceitos estes não abordados neste artigo.

    Depreende-se disto, a composição e interface que representam ao psiquismo humano temas como o Narcisismo Primário e Secundário; a Libido, o Desejo, o Recalque, o Inconsciente, bem como todo o conjunto de psicopatologias decorrentes do fluxo desviado destes constituintes.

    Temas fundantes à Psicanálise, e entre eles figura, “miticamente”, a Pulsão. Fenômeno improvável, ainda que indelével.

     

    Referências bibliográficas sobre Narcisismo Primário, Secundário e Teoria das Pulsões

    FREUD; S. – Sobre o Narcisismo – Uma Introdução (1914). Edição Standard Brasileira, Obras Completas de Sigmund Freud – Vol. XIV. Imago. Rio de Janeiro – 1974

    _________ – Os Instintos e suas Vicissitudes (1915). Edição Standard Brasileira, Obras Completas de Sigmund Freud – Vol. XIV. Imago. Rio de Janeiro – 1974

    _________ – Além do Princípio do Prazer (1920). Edição Standard Brasileira, Obras Completas de Sigmund Freud – Vol. XVIII. Imago. Rio de Janeiro – 1974

    _________ – Conferência XXXII – Ansiedade e Vida Instintual (1932). Edição Standard Brasileira, Obras Completas de Sigmund Freud – Vol. XXII. Imago. Rio de Janeiro – 1974

    GARCIA-ROZA; LUIZ A. – FREUD e o Inconsciente. Zahar Editores. Rio de Janeiro – 2016

    O artigo sobre Narcisismo Primário, Narcisismo Secundário e Teoria das Pulsões foi escrito por Marcos de Almeida (atendimento: [email protected]), Psicólogo (CRP 12/18.287), Psicanalista Clínico e Filósofo, Mestre em Patrimônio Cultural e Sociedades.

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