Neste artigo, vamos falar sobre os benefícios de fazer Psicanálise (como analisando) e como esta terapia representa a busca pela cura do corpo e da alma, através da fala.
Há, em nós, um “fio condutor” ligando nosso corpo e nossa mente/alma. Consequentemente percebemos que a “psique humana” é capaz de “fabricar” doenças psicossomáticas, ou seja, patologias com características e origem na “alma” ou “mente”. E essas, acabam se manifestando no nosso corpo, com sintomas físicos, sob diversas formas.
Geralmente são ocasionadas por questões emocionais, fobias, distúrbios psíquicos, depressão, ansiedade, estresse… que o paciente vive/convive ou já viveu e não foram tratadas. Daí surge o termo “Psicossomatizar”; a influência da mente sobre a saúde de nosso corpo.
“NOSSA CAIXINHA CEREBRAL” CHAMADA INCONSCIENTE
Tudo o que repercute em nosso corpo, é registrado em nosso inconsciente. Ficando arquivado “numa caixinha”, na parte mais profunda da nossa biblioteca “chamada cérebro”, na qual não temos livre acesso. Um lugar onde os conteúdos censurados, os desejos reprimidos, os traumas… se tornam “adormecidos” ou “esquecidos” nessa suntuosa biblioteca mental.
A IMPORTÂNCIA DA PSICANÁLISE
Assim surge a importância da Psicanálise: levar o indivíduo a “acessar essa caixinha chamada inconsciente”, pesquisando o que está acessível (as palavras ditas, as memórias acessíveis, os medos, os sonhos, os desejos expressos…), buscando descobrir o que não está acessível (as causas dos sintomas, os conteúdos traumáticos e recalcados…); para assim, desvendar “o enigma” e auxiliar no processo de cura.
A Psicanálise é considerada uma ciência da interpretação (hermenêutica), com caráter investigativo; portanto, ela vai oferecer “a chave” para a “abertura dessa “caixinha”.
O “PAI” DA PSICANÁLISE
Sigmund Freud, neurologista austríaco, descobriu o inconsciente. Ele foi o primeiro a pesquisar profundamente o inconsciente, constatando que o inconsciente é alógico, atemporal e a espacial. O inconsciente é constituído por conteúdos que não estão presentes no nível consciente e são mantidos reprimidos por censuras internas; dispõe de leis próprias.
Para Freud, os sentimentos, os desejos, os sonhos e motivos inconscientes influenciam e guiam o comportamento consciente. Desenvolveu a teoria psicanalítica, sendo intitulado como fundador da Psicanálise, trazendo grandes influências e contribuições.
DOENÇAS E FUNDO EMOCIONAL
Toda doença tem fundo emocional; portanto a saúde do nosso corpo sofre influência da nossa mente.
Não existe separação ideal entre corpo e mente. Com sofrimento psicológico e emocional, nosso corpo pode produzir cortisol (hormônio do stress) e com a repetição desta descarga hormonal, pode ficar cada vez mais debilitado e adoecer.
O contrário também pode acontecer, toda vez que a saúde do corpo estiver abalada, podemos sofrer consequências emocionais e psicológicas (exemplo quando uma pessoa descobre que tem uma doença incurável tipo AIDS ou Câncer, poderá se abalar emocional e psicologicamente).
O tratamento, se faz necessário ser em conjunto, médico (psiquiatra) e psicanalista ou psicólogo. Estudos já comprovam a eficácia terapêutica da Psicanálise. A Psicanálise pode ajudar a identificar, causas e sintomas que podem estar surgindo por conta de questões emocionais, através das informações que o paciente poderá fornecer.
Nas palavras de Freud (1922), “chamamos de Psicanálise ao trabalho pelo qual levamos à consciência do doente o psíquico recalcado nele”.
FREUD E A HIPNOSE
Freud, realizou estágio com o neurologista francês Jean-Martin Charcot, conhecendo a técnica de hipnose. Técnica essa em que o médico coloca o paciente num estado semelhante ao sono, gerado por um processo de indução, no qual o indivíduo fica muito suscetível à sugestão do médico; onde o mesmo pode provocar o aparecimento e o desaparecimento de fatores físicos.
Através dessa técnica é possível acessar as lembranças traumáticas. A partir daí, ele realiza uma investigação entre as conexões e condutas do paciente, que poderiam estabelecer qualquer relação com o sintoma apresentado. As memórias ocultas são trazidas ao nível consciente, o que possibilita o desaparecimento do sintoma.
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TERAPIA DA HIPNOSE E TERAPIA DA CONVERSA: MÉTODO CATÁRTICO
Posteriormente, Freud se alia a Josef Breuer, médico que descobriu ser possível aliviar sintomas de doenças, induzindo seus pacientes a recordar experiências traumatizantes sofridas na infância; descrevendo fantasias e alucinações, usando a terapia da hipnose e a terapia de conversa.
Trabalhando juntos, popularizaram a técnica que teve o nome de método catártico, onde o paciente consegue eliminar seus afetos e emoções patogênicos através da fala e, então ab-reagi-los, revivendo os acontecimentos traumáticos a ele ligados (rememorando as cenas vivenciadas, o que culminava no desaparecimento do sintoma).
Nesse método, a atenção do paciente é direcionada para a cena traumática, onde relatam seus sintomas de maneira livre, a fim de encontrarem alívio durante o processo de “reencenação”. Freud rompe com Breuer, por discordarem em alguns pontos, sobretudo na ênfase que Freud estabelecia entre as memórias do paciente, as origens e conteúdos sexuais da infância.
TÉCNICA DA CONCENTRAÇÃO
Freud segue seu caminho focado nas ideias e técnicas da Psicanálise, abandona a técnica da hipnose e passa a utilizar a técnica da concentração, onde o paciente através de uma conversa normal, livre, não-direcionada, rememorava situações que pudessem ter ocasionado os sintomas que apresentava.
Algumas vezes, podendo ser convidado “a deitar e fechar os olhos” para se concentrar (similar a técnica da hipnose); porém sem nenhuma hipnose, apenas através da “conversa concentrada/focada”, surgiam as lembranças do passado, que poderiam se relacionar “ao tema”.
TÉCNICA DA PRESSÃO
Junto à essa técnica, Freud introduziu uma prática provisória, conhecida como técnica da pressão onde ele solicitava que o paciente se concentrasse em um sintoma particular, recordasse qualquer lembrança que pudesse ajudar a entender a origem do mesmo.
Daí Freud pressionava sua mão sobre a testa do paciente e tranquilizava de que ele de fato recordaria lembranças relevantes quando ele indagasse sobre elas.
Era uma tentativa de trazer ao consciente os conteúdos inconscientes. Um grande mérito de Freud é que ele se permitia aprender com seus pacientes e, foi assim que ele percebeu que alguns pacientes ofereciam resistências e defesas a essa técnica, levando-o a aprimorar e seguir um novo caminho…
Freud percebeu que a técnica da concentração era mais um impedimento do que um facilitador. Abandonou o procedimento de dirigir a atenção do paciente, aplicar a pressão sobre a testa, instruí-lo a fechar os olhos e fazer perguntas exploratórias.
TÉCNICA DA ASSOCIAÇÃO LIVRE
Foi então que Freud desenvolveu a técnica da associação livre (essa técnica passou a ser regra fundamental da Psicanálise), que consiste em levar o paciente a dizer tudo o que vem à sua mente, sem se preocupar com aspectos lógicos e/ou inteligíveis de seu discurso; sendo convidado a relatar seus sonhos, sem restrição ou julgamento, de forma livre; despindo-se de sua autocrítica (que funciona como barreira para impedir o acesso do inconsciente ao consciente).
A partir dos relatos, Freud os investigava, analisava e interpretava. Acreditava que as pessoas podiam ser curadas “tornando conscientes” seus pensamentos, liberando suas emoções, motivações e experiências reprimidas/ inconscientes; obtendo assim uma percepção, um conhecimento, uma nova compreensão desta memória.
Para Freud, enquanto o paciente mantém ideias recalcadas, sentimentos, traumas e eventos ligados ao passado, este passado torna-se presente, uma vez que é constantemente atualizado através dos sintomas atuais.
NOÇÃO DA ATENÇÃO FLUTUANTE
Quando a reação é reprimida, o afeto permanece ligado à lembrança e produz o sintoma. Aliado a técnica da associação livre, Freud introduz a noção da atenção flutuante, em que o analista mergulha num profundo silêncio, livrando-se de preconceitos conscientes e defesas inconscientes sobre sua atenção a fala do paciente.
A neutralidade e a singularidade da escuta do analista permitiam uma compreensão da mente do paciente com a menor interferência possível, cuidando para não ressaltar um aspecto, em detrimento de outros. Freud aponta a necessidade de escutar o paciente com o inconsciente e, por isso, o analista não deve se preocupar em memorizar o que o paciente diz. Dessa forma, facilitaria a descoberta das conexões inconscientes na fala do paciente.
MÉTODO PSICANALÍTICO: TRATAMENTO BASEADO NA FALA
“Segundo Roudinesco (2000), o método psicanalítico é um tratamento baseado na fala, um tratamento em que o fato de se verbalizar o sofrimento, de encontrar palavras para expressá-lo, permite, senão curá-lo, ao menos tomar consciência de sua origem e, portanto, assumi-lo.
E, hoje, parece que a Psicanálise se encontra em constante desafio, na tentativa de compreender novos sintomas e patologias.
Mesmo assim, seu método permanece centrado na escuta da condição humana, na escuta do sujeito que sofre, dando voz àquilo que, por ação do recalcamento, não pode aparecer, mas despende energia para manter certo modo de funcionamento produtor de sintoma. ”
Por muito tempo acreditamos numa medicina que dividia o corpo e a mente. Atualmente, já não podemos negar a ligação que as nossas emoções provocam em nosso corpo e vice-versa. Portanto, corpo e mente são uma unidade.
O TRABALHO DO TERAPEUTA
O trabalho do terapeuta é o de investigar a origem patogênica dos complexos inconscientes do paciente, visando conhecê-los e tratá-los.
Tais conteúdos, que determinam os conflitos, as ações e os sofrimentos nos indivíduos, se esforçam para permanecer no inconsciente. Será de sua fala e de seus atos, não de sua consciência alienada, que pode surgir o horizonte de sua própria cura. E, se não conseguir solucionar todos os problemas, será uma chance de o paciente “entrar em contato com sua morada interna”.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde não é apenas a ausência de doença, mas um bem estar, biopsicossocial e espiritual.
CONCLUINDO: CURA DO CORPO E DA ALMA COM PSICANÁLISE
O processo analítico da psicanálise, que se baseia principalmente no diálogo terapêutico por meio da associação livre, na concepção de Freud, vem nos apontar “a cura pela fala” .
Ele concluiu que os sintomas de neuroses (como a ansiedade e a depressão) poderiam ser aliviados através da fala, onde o paciente poderia divagar sobre suas ideias, memórias e sonhos, aprendendo a conviver com o passado, olhando para o futuro e criando novos significados.
Através da Psicanálise, por ser uma ciência da interpretação de caráter investigativo, que trabalha profundamente o inconsciente, podemos buscar a cura do nosso corpo e da nossa alma.
Este texto sobre a cura do corpo e da alma com psicanálise foi escrito por Fátima Quagliani (e-mail: [email protected]), psicanalista em formação pelo IBPC. Pedagoga. Orientadora Educacional e Vocacional. Professora do Curso Normal. Supervisora do Curso de Pedagogia. Especialista em Educação Infantil. Nova Iguaçu/RJ.
2 thoughts on “Cura do corpo e da alma através da fala”
Excelente texto, reduzido e muito bem elaborado. Parabéns.
Muito bom artigo, parabéns!