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Freud, Charcot e a Hipnose na paciente Emmy

Posted on Posted in Psicanálise, Teoria Psicanalítica

Muito se fala da ligação entre Freud e Charcot e entre eles e a Hipnose. Para alguns, mais parece que a relação entre Freud e Charcot foi extremamente mal acabada e com fatídicas contradições. Em algumas análises literárias, chega-se a personificar a hipnose como se tivesse havido uma separação digna das intensas batalhas judiciais muitas vezes verificadas nos dias atuais.

Vamos aprofundar este tema no presente artigo. Um foco especial foi dado por Freud ao famoso caso da paciente Emmy Von N. (aprofundamos este caso em outro artigo). Será que, ao longo de sua trajetória, Freud abandonou a hipnose, definitivamente?

Freud não abandonou a hipnose

Segundo Peter Gay (1989), as sessões com a paciente Emmy permitiram a Freud ver que a hipnose era de fato “inútil e sem sentido”. Uma afirmação questionável, ainda mais quando se observa o trabalho desenvolvido por:

São três métodos que marcam o percurso de Freud. Os dois primeiros (listados acima) e o terceiro e definitivo método de Freud: associação livre.

Apesar de ainda persistir esta visão para algumas pessoas e do reforço por muitos de que a hipnose foi abandonada pela supremacia imperiosa da livre associação, há que se ponderar não só a importância da hipnose para o desenvolvimento da psicanálise.

O trabalho desenvolvido por Freud e Charcot

É preciso também entender que talvez tenha se tratado de uma separação muito mais amigável do que parece.

Na verdade, em uma análise mesmo que superficial dos trabalhos desenvolvidos por Freud e Charcot, é possível perceber que a hipnose teve um papel importantíssimo para Freud.

A experiência prevalece sobre a autoridade

As contestações sobre a eficácia da hipnose simplesmente com base em empirismos e com a mera argumentação de que esta foi “abandonada” por Freud merecem como resposta as próprias palavras do Pai da Psicanálise.

Freud afirmou: “Em questões científicas, é sempre a experiência e nunca a autoridade, que dá o veredicto final, seja contra ou a favor”. Com estas palavras Freud defendia a hipnose daqueles que a condenavam sem nunca tê-la experimentado na clínica.

A preferência de Freud pela rememoração

Ao se analisar o próprio processo de construção para o início da utilização da livre associação, percebe-se que desde o início Sigmund Freud demonstra uma preferência pela rememoração, em contraposição ao processo de sugestão, relacionado com a terapia sugestiva.

Tal preferência é ainda mais intensificada quando o pai da psicanálise começa a perceber com mais clareza a dinâmica do recalque na formação do inconsciente da histeria e a articulação dos sintomas a partir desta formação.

A transição do uso da hipnose pelo uso da livre associação de ideias

Posteriormente, Freud percebe que as reminiscências traumáticas, resultados da realidade psíquica do paciente e não da realidade em si. Essas reminiscências poderiam ser recordadas sem hipnose, através da associação livre dos pensamentos.

Percebe-se assim, uma transição em que não parece caber valoração qualitativa. Trata-se sim de uma adaptação ao seu perfil na busca da técnica mais adequada e efetiva para ele.

Uma análise do tempo em que Freud e Charcot trabalhavam juntos

Ainda sobre a relação de Freud com a hipnose, há quem afirme que Freud deixou a ferramenta por não ser um bom hipnotista. Entretanto, há mais um ponto final, que merece ser tratado com reticências. Freud e Charcot trabalharam juntos e Charcot chegou a afirmar que era um de seus melhores alunos.

Mas é certo que fatores externos, como o uso exagerado de charutos que culminaram em problemas na voz.

O insucesso de Freud com o hipnotismo

Afirma Weissmann (1958) que “talvez Freud tivesse dificuldades para hipnotizar; é possível que lhe faltasse a qualidade de um bom hipnotista e, isso também teria contribuído para ele abandonar o método da hipnose”.

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    De fato, Freud afirma “Quando constatei que, apesar de todos os meus esforços, só conseguia colocar em estado de hipnose uma pequena parcela de meus doentes, decidi abandonar esse método” (Freud apud Chertok, 1990).

    A busca de Freud por novos caminhos

    Mas o objetivo fundamental aqui é demonstrar que a hipnose, não padeceu de uma sensação de abandono, mas de uma satisfação pela sua contribuição para que Freud buscasse novos caminhos, adequados ao seu perfil.

    Diga-se, do mesmo modo que Jung faria em momento futuro, sem, por isso, desvalorizar a psicanálise freudiana.

    Contextualizando as descobertas de Freud na época em que ele vivia

    Agregado a tudo que já foi apresentado, há que se contextualizar as descobertas de Freud ao meio social em que ele vivia.

    Imagine, no início do século XX, surgir um “cidadão” falando em inconsciente e se manifestando no sentido de que toda aquela história de “movimento de útero” relacionado com a histeria não era real (ideia essa que já encontrava outros defensores).

    A medicina tradicional e as novas técnicas terapêuticas

    Somando-se a isso, apresenta-se a “cura psicanalítica pela fala”, mais uma inovação para uma medicina extremamente arraigada ao conceito tradicional de ciência. Era, sem dúvida, muita novidade para aquele momento.

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    Agora, imagine acrescentar a todo o exposto a hipnose, que até os dias atuais carrega um certo misticismo e é desacreditada por muitos.

    O reconhecimento da hipnose por Freud

    Será que não seria a faísca a deflagrar a pólvora que impediria Freud de exteriorizar ao mundo sua genialidade e a teoria psicanalítica?

    A resposta para a pergunta acima não é simples, mas é certo que próximo do fim de sua pesquisa, Freud reconhece a utilidade da hipnose, porém afirma rejeitar o hipnotismo e a hipnoanálise como método terapêutico, devido ao insucesso de colocar seus pacientes em transe.

    Freud não abandonou a hipnose

    Freud não relacionou a rejeição por parte da classe médica e do meio acadêmico sobre a eficácia dessa técnica com a desistência da hipnose. O próprio meio sugeria esse “abandono” para que a psicanálise pudesse se desenvolver com mais força.

    Diante de todo o exposto, fica fácil perceber que qualquer tentativa de minimizar a hipnose com a argumentação de que Freud a “abandonou”, só demonstra um desconhecimento a respeito da própria história da psicanálise e das origens do método da livre associação.

    Autor: Pedro Ivo, exclusivo para o blog Psicanálise Clínica.

    8 thoughts on “Freud, Charcot e a Hipnose na paciente Emmy

    1. Aline Orácio Rocha disse:

      ótimo artigo, deixou bem claro a relação da hipnose com a psicanálise, sem desvalorizar nenhuma.

      1. Izaias Bitencourt Moraes disse:

        Freud percebeu falhas e dificuldades (suas), na hipnose e juntou a isso o desejo de criar. Que bom.
        Matéria ótima!

    2. Dayse Grijó disse:

      Excelente contextualização. Talvez uma estratégia para que algo “novo” – como a Psicanálise – pudesse acontecer e se fortalecer.

    3. José Carlos disse:

      Só não entendi a relação entre Freud só ter 2 ternos e 3 pares de sapatos e a sua dificuldade com a hipnose.

      1. Imagina o bafo do charuto e de quanto em quanto tempo tomava banho e trocava de roupa…

    4. Rosangela Barboza disse:

      interesante a parte de que Freud teria dificuldades para hipnotizar ,acredito que a hipnose deve ser usada em certos casos e com muito cuidado.

    5. Sérgio Maurício Carvalho de Azevedo disse:

      Não li no texto o “foco especial” ao caso da paciente Emmy.

    6. Carla Moreira disse:

      A hipnose é algo formidavel.Compreendo a dificuldade de freud nessa questão, pois, o problema não é por o paciente em transe hipnotico , e sim sugestionar de maneira adequada o individuo. Lembrando que a sugestão consciente também é uma forma de hipnose!

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