Nelson Rodrigues, vida, obra e pensamento

Nelson Rodrigues: vida, obra e pensamento

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Você vai conhecer mais sobre a vida, a obra e o pensamento de Nelson Rodrigues, seu trabalho no teatro, seu interesse pelo futebol e pela psicanálise.

Talvez não tenha nome mais completo na dramaturgia e literatura brasileira do que Nelson Rodrigues. O pernambucano de nascimento, carioca de vocação, escreveu peças de teatro, crônicas de jornal, romances, telenovelas, inúmeros contos e, até mesmo, notícias de jogos de futebol.

Para muitos, Nelson Rodrigues é uma inspiração sem fim, seja como teatrólogo e dramaturgo, seja como escritor e jornalista. Talvez seja o maior brasileiro nessas funções da arte da palavra a nascer, viver e morrer no século XX.

Quem foi Nelson Rodrigues?

Entre os muitos lados que podem ser analisados de sua produção complexa e, por muitas vezes, polêmica, está o seu vínculo com a psicanálise. Vamos conhecer um pouco sobre sua biografia, bibliografia e suas abordagens da psique individual e social dos brasileiros.

Nascido em 23 de agosto de 1912, Nelson Rodrigues é o mais velho dos irmãos do meio de sua família: ele é o quinto de catorze irmãos. Aos 4 anos, sua família se muda para o Rio de Janeiro. Família essa composta por nomes de grande vulto na sociedade brasileira.

Seu pai, Mario Rodrigues, era jornalista e deputado. Perseguido politicamente por suas posições polêmicas, fundaria em 1920 o jornal “A Manhã”. Seria vítima de um atentado criminoso na redação, que vitimaria o seu filho, o chargista Roberto Rodrigues.

O motivo do atentado foi as notícias sensacionalistas do divórcio de Sylvia Serafim. A escritora, sentindo-se ofendida, comprou um revólver e disparou na redação do jornal. Seu irmão mais velho, Mario Filho, foi um dos maiores incentivadores do futebol no Rio de Janeiro.

Foi crucial na construção do estádio do Maracanã para sediar a Copa do Mundo de 1950, bem como reinventou o jornalismo esportivo com o seu “Jornal dos Sports”.

O início da carreira de Nelson

Foi Mario Filho que deu o primeiro emprego a Nelson Rodrigues. Nelson, tal como o irmão, era um apaixonado por futebol. No entanto, diferente do exemplo fraterno, era um torcedor fanático pelo Fluminense.

Em 1943, Nelson Rodrigues choca a sociedade carioca com a peça de teatro “Vestido de Noiva”, dirigida pelo polonês Ziembiński, que fugira ao Brasil por causa da Segunda Guerra Mundial. Misturando planos da psique da personagem com os fatos do presente, “Vestido de Noiva” inaugura uma forma “Nelson Rodrigues” de fazer teatro: as peças psicológicas, recurso que ele também utilizaria em suas crônicas (conhecidas pela coluna “A vida como ela é”), romances e peças de teatro que viriam.

Produção para teatro, cinema e televisão

Dos idos dos anos 1940 até a sua morte, em 21 de dezembro de 1980, Nelson Rodrigues inundou a cena social brasileira com textos provocadores e críticos ao senso comum, à moral “não-dita”, aos impulsos sexuais inconscientes, aos medos da morte, entre outras “obscenidades”.

Qualquer um de seus textos, sejam em palavras ou convertidos em peças de teatro, programas de TV ou filmes, são convites ao entendimento da psique humana, bem como ao contexto social brasileiro de quase quatro décadas.

As peças psicológicas e a psicanálise O crítico teatral Sábato Magaldi, ao organizar as obras teatrais completas de Nelson Rodrigues, dividiu suas peças em três grupos temáticos que são, curiosamente, mais ou menos organizados cronologicamente:

  • Peças psicológicas: Início dos anos 1940, com exemplares feitos na década de 1950 e nos anos 1970, perto de seu falecimento.
  • Peças míticas: Entre 1946 a 1949.
  • Tragédias cariocas: De 1953 a 1965 com uma exceção nos anos 1970.

As peças psicológicas

As peças psicológicas seriam aquelas onde Nelson Rodrigues despontaria para a fama. Elas abordam temas da psique humana, utilizando recursos dramatúrgicos tais como o fluxo de consciência, planos narrativos do inconsciente, bem como lidando com complexos e neuroses de maneira aberta.

São elas:

  • “A mulher sem pecado” (1941),
  • “Vestido de noiva” (1943),
  • “Valsa nº 6” (1951) “Viúva, porém honesta” (1957) e
  • “Anti-Nélson Rodrigues” (1974).

As peças míticas

As peças míticas são uma fase de transição onde o psicológico é substituído pelo mitológico e arquetípico.

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    Há referências religiosas mais fortes do que na primeira fase, bem como debates sobre questões sociais amplas, tal como o racismo.

    São elas:

    • “Álbum de família“ (1946),
    • “Anjo negro” (1947),
    • “Senhora dos Afogados” (1947) e
    • “Doroteia” (1949).

    As tragédias cariocas

    Por fim, as tragédias cariocas são aquelas que mais permeiam o imaginário popular sobre Nelson Rodrigues.

    A maioria foi adaptada para o cinema e para televisão e aborda, com um olhar de cronista (ora irônico, ora sarcástico), o microcosmo social do Rio de Janeiro.

    Há uma retomada às análises da psique, porém elas não se refletem tanto na linguagem teatral escolhida tal como nas peças psicológicas, seguindo mais o exemplo das tragédias gregas.

    São elas:

    • “A falecida” (1953),
    • “Perdoa-me por me traíres” (1957),
    • “Os sete gatinhos” (1958),
    • “Boca de Ouro” (1959),
    • “O beijo no asfalto” (1960),
    • “Bonitinha, mas ordinária” (1962),
    • “Toda nudez será castigada” (1965) e
    • “A serpente” (1978).

    Nelson Rodrigues, Futebol e Psicanálise

    Freud e Nelson Rodrigues É sabido que, apesar de não ser psicanalista, Nelson Rodrigues era atento as ideias psicanalíticas para construir sua dramaturgia. No entanto, há algo mais do que isso. Ele gostava de ver como a psicanálise “caía no gosto popular” do brasileiro.

    Um exemplo disso é o texto “Freud no futebol”, publicado em 7 de abril de 1956 na Manchete Esportiva. Neste texto, fazendo uma análise retrospectiva da derrota do Brasil na Copa do Mundo de 1954 contra a temida Hungria de Puskas, Nelson Rodrigues analisava aquilo que viria ser conhecido como “complexo de vira-lata” do brasileiro (termo inventado pelo próprio Nelson Rodrigues em outra crônica) em termos populares.

    Diferente da Copa de 1950, a derrota em 1954 não tinha explicação, segundo Nelson Rodrigues, apesar de todos acharem que sim. Um dos jeitos dos “eruditos” explicarem porque o Brasil não ganhava Copas do Mundo (lembrando sempre que a primeira conquista brasileira veio apenas em 1958, dois anos depois do texto) seria soltar a frase “Freud explicaria isso”.

    Assim, Nelson Rodrigues diz que essa frase “Freud explicaria isso” serve tanto para explicar a traição de Madame Bovary na boca de um crítico literário e/ou psicanalista nos Estados Unidos ou na Europa, bem como para ele e qualquer brasileiro explicar qualquer coisa, inclusive a derrota do Brasil em uma Copa do Mundo de Futebol.

    Este conteúdo sobre Nelson Rodrigues, sua trajetória, sua obra e sua relação com o futebol e a psicanálise foi escrito pelo autor Rafael Duarte Oliveira Venancio ([email protected]), escritor e dramaturgo, psicanalista e psicoterapeuta, professor e mentor. Pós-doutor pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), sendo Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela mesma instituição. Suas peças de teatro e de radioteatro foram encenadas em três línguas em três países, tendo como temas mais frequentes a ficção e reimaginação histórica, a metadramaturgia, a história do futebol e demais esportes, e o storytelling filosófico e psicanalítico.

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