fibromialgia

Fibromialgia: o que é, sintomas e causas emocionais

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Neste texto, desenvolveremos a tese de que a fibromialgia pode ter sua origem em emoções silenciadas, derivadas de traumas emocionais ocasionados na esfera familiar seja na infância ou na vida adulta. Segundo Coimbra de Matos( 2003) “a incapacidade de fazer a leitura dos afectos e emoções predispõe para o adoecer somático.”

Considerando o objetivo a ser alcançado por esse trabalho, foram utilizadas pesquisas online em sites e publicações eletrônicas e também pesquisas experimentais de campo, observando um grupo de portadoras de Fibromialgia.

Entendendo sobre a fibromialgia

O presente estudo apresenta o relato de casos clínicos com pacientes com diagnóstico de fibromialgia e dor crônica participantes voluntárias do projeto da autora, intitulado de “Imersão Desatando os Nós das Minhas Emoções”. Serão aqui apresentados os dados encontrados nos atendimentos da Imersão e na pesquisa aplicada intitulada “A fibromialgia pela ótica do(a) paciente”, bem como os resultados de experimento realizado no período de quatro semanas com as participantes voluntárias.

Na primeira parte do trabalho, abordaremos a visão de Sigmund Freud, Juan David Nasio e outros autores a respeito da dor e suas derivações. Na segunda parte analisaremos a visão da Psicanálise sobre as doenças psicossomáticas e a fibromialgia. Na terceira, apresentaremos os resultados encontrados na pesquisa de campo e na Imersão – ambos idealizados e executados pela autora desse trabalho.

Fibromialgia, dor e a Somatização

Escreveu Freud: “As emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem de piores formas mais tarde”. Em toda a obra de Sigmund Freud (1856 -1939) a dor foi um tema abordado com constância, considerado por ele algo de difícil gestão clínica devido à inexistência de interpretação possível para tal sentimento. O estudo da experiência da dor não foi para Freud uma prioridade, entretanto este foi um objeto de reflexão durante o desenvolvimento de sua obra psicanalítica. A Teoria da Metapsicologia da dor contou com a colaboração de Sigmund Freud em sua elaboração, tanto no aspecto físico quanto no psíquico. Em sua obra Projeto para uma Psicologia Científica (1895) foi estudado o modelo da experiência do prazer e o modelo da dor. Em em Luto e Melancolia (1915) e em Além do Princípio do Prazer (1920) também foi feita uma abordagem sobre a dor.

Já no livro Inibição, Sintoma e Angústia (1926), em seu Anexo C sob o título Angústia, Dor e Luto Freud destaca a diferença entre a dor física e a dor psíquica. A dor nem sempre apresenta nocividade, pode representar um alerta mostrando que existe algo no corpo ou na psique que não se encontra em ordem. Juan-David Nasio (1997, p.32) afirma que “ao contrário da dor física causada por um ferimento, a dor psíquica ocorre sem agressão aos tecidos. O motivo que desencadeia não se localiza na carne, mas no laço entre aquele que ama e o seu objeto provocado pelo amado. ” Hipócrates, por volta de 400 anos A.C.,já afirmava que não há separação entre a mente e o corpo. Portanto não há nada que aconteça a um que não interfira diretamente no outro, não existe doença que acometa o corpo e deixe completamente ilesa a mente. Por essa razão, ele considerava muito mais importante conhecer a pessoa que tinha a doença do que priorizar descobrir qual a doença que acometia a pessoa.

A Organização Mundial da Saúde – OMS, define saúde como “um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Diante do exposto, é possível afirmar que um desequilíbrio entre a mente e o corpo pode fomentar um sintoma que vem a ser na verdade um recurso utilizado pelo corpo psíquico para nos sinalizar que algo está errado e necessita de atenção especial – uma metáfora psíquica ativada por dificuldades enfrentadas no dia a dia de um indivíduo, seja no passado ou nos dias atuais causando dores no corpo físico como por exemplo dores de estomago, problemas gastrointestinais, enxaquecas, insônia, desequilíbrio alimentar ou dor na coluna.

Os relacionamentos interpessoais

A sociedade cultiva uma visão deturpada de como devem ser os relacionamentos interpessoais e que é mais forte aquele que consegue suportar tudo calado. Porém todas as mágoas e ressentimentos engolidos, frustrações mal digeridas, tristezas ocultas atrás de um discurso falso de felicidade abundante manifestar-se-ão de alguma forma através do corpo. Tudo aquilo que a pessoa não diz promove grande desconforto e isso não passa despercebido, a somatização de conflitos emocionais e problemas psicológicos sobrecarrega a mente de maneira tal que esta não suporta e manifesta esse conteúdo sobressalente em forma de doença.

Para Freud (1895) o corpo se comunica através de comportamentos distintos e “nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca cala, falam as pontas dos dedos”. Muitas pessoas ainda são resistentes à ideia de que cuidar da saúde emocional é tão importante quanto cuidar da saúde do corpo, sendo essencial em muitos casos que estes sejam realizados em parceria para alcançar um melhor resultado.

A conexão do estresse com a dor

Ao enfrentar situações de pressão e ameaça, o corpo libera adrenalina e cortisol no sistema nervoso como forma de lidar com o perigo de risco iminente, a essa resposta dada pelo corpo dá-se o nome de estresse. Quando essa resposta ocorre de forma excessiva e por tempo prolongado, a sobrecarga hormonal no metabolismo pode causar prejuízos físicos e emocionais, comprometendo a qualidade de vida do indivíduo.

O estresse é considerado o mal do século XXI e por isso levado muito a sério, de maneira tal que foi escolhido o dia 23 de setembro como Dia Mundial de Combate ao Estresse e assim conscientizar as pessoas sobre os riscos aos quais estão todas submetidas. O estresse excessivo pode suscitar quadros críticos de ansiedade, gastrointestinais, depressivos e problemas cardíacos, dentre outros.

As fases do estresse

De acordo com o Ministério da Saúde, é necessário empregar uma atenção especial para controlar o estresse mediante o surgimento de alguns sintomas, sendo esses separados por fases:

  • Fase de Alerta é aquela na qual o indivíduo está conectado à motivação do estresse. Os sintomas dessa fase são agitação, roer unhas, boca seca, diarreia, mãos e pés frios, aperto na mandíbula, tensão e dor muscular, aumento da pressão sanguínea e batimentos cardíacos acelerados.
  • Fase de Resistência é a tentativa do corpo em voltar ao equilíbrio. Nessa fase os sintomas são formigamento nos pés e nas mãos, sensibilidade emotiva em excesso, redução no desejo sexual, problemas de pele, cansaço constante, mudanças de apetite, gastrite prolongada, irritabilidade excessiva, tontura e hipertensão arterial.
  • Na Fase de Exaustão doenças começam a surgir como reação ao estresse. Nessa fase os sintomas apresentados são tique nervoso, angústia, irritabilidade, insônia, tontura frequente, ausência de senso de humor, dificuldades sexuais, problemas de pele prolongados, hipersensibilidade emotiva, cansaço excessivo e impossibilidade de trabalhar.

O estresse não está ligado apenas ao estado físico, nem apenas associada ao cansaço. Problemas de origem emocional e psicológica podem desenvolver o estresse, sendo o sistema nervoso autônomo o responsável por combatê-lo naturalmente, lidando com grande parte das situações enfrentadas no dia a dia.

O sistema nervoso autônomo é composto pois de dois subsistemas que visão encontrar o equilíbrio: o simpático, que estimula a adrenalina e coloca o organismo em sinal de alerta e o parassimpático, que atua de forma contrária ao simpático, favorece a digestão e o repouso com objetivo de tranquilizar o corpo. Esse estado de alerta permanece ativo mesmo durante o sono e em pacientes portadores de fibromialgia ocasiona uma carga de adrenalina muito superior à que é esperada como resultado do estresse. Essa adrenalina excessiva causa nos portadores da síndrome de fibromialgia uma dor nas articulações e nos músculos já habituais da doença, ou mesmo as potencializa.

A visão da Psicanálise sobre doenças psicossomáticas e fibromialgia

Para a Psicanálise o corpo não se restringe ao orgânico, entende-se que dele emerge o circuito de pulsão que tem por objetivo a satisfação seja por meio do prazer ou do desprazer. Na psicanálise freudiana, o corpo é teorizado de diferentes formas, a exemplo do corpo erógeno, corpo narcísico, corpo da conversão histérica e corpo pulsional, demonstrando assim a relevância do corpo na constituição de um aparelho psíquico. A medicina científica, que visa a regulação das variáveis anatômicas e biológicas, torna-se impotente diante da dor crônica, uma vez que esta se caracteriza como uma forma de adoecer incapturável por sua objetividade. Partindo desse pressuposto, a Psicanálise aponta para a insuficiência desse projeto objetivista da medicalização e assumindo o seu lugar de fala, reestabelece o lugar do indivíduo perante sua dor e de seu mal-estar.

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Freud, em vias do século XX, teceu críticas à medicina positivista em sua extrema preocupação com sintomas e a despreocupação com o fato de que era através da linguagem que o doente relatava sua enfermidade. Em seu texto tardio “Algumas lições elementares da Psicanálise” (1940[1938]1996 u), Freud defende que há uma estreita relação entre elementos psíquico e somático: “(…) não se pode desprezar por muito tempo o fato de que os fenômenos psíquicos são em alto grau dependentes das influências somáticas e o de que, por seu lado, possuem os mais poderosos efeitos sobre os processos somáticos. Se alguma vez o pensamento humano se encontrou num impasse, foi aqui. (p.303)” O inconsciente representa no aparelho psíquico o abrigo das experiências vivenciadas desde o nascimento do indivíduo.

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    Quando uma interpretação dessas experiências se relaciona a algum tipo de sofrimento, a compreensão se torna de difícil acesso e entendimento, ocasionando sofrimento devido a algo absorvido de forma negativa em alguma ocasião, sem que essa motivação seja conhecida ou sequer lembrada. Cada indivíduo tem uma forma de reagir diante dessas interpretações vivenciadas.

    A indústria da felicidade

    Esse entendimento, ou a falta dele, mediante a um conflito familiar ou situação traumática por exemplo, pode oprimir os sentimentos. Tendenciosamente, o indivíduo pode esconder os sentimentos e emoções com as quais não sabe lidar. Tudo o que acontece no dia a dia deixa algum tipo de marca emocional nas pessoas. Nada passa completamente despercebido, embora muitas vezes não seja possível perceber nitidamente as pequenas mudanças, essas marcas realizam gradativamente um desequilíbrio que mais cedo ou mais tarde se manifestará.

    Há ainda a “indústria da felicidade” que ocasiona e evidencia os casos de desordem psíquica, trata-se de uma cultura impositiva de que todos devem obrigatoriamente ser felizes em todo tempo, atribuindo a quem não se considera feliz nesses termos uma pessoa doente e fracassada.

    Síndrome de Joanina Dognini – a tão temida fibromialgia

    A fibromialgia é uma doença crônica, também chamada de Síndrome de Joanina Dognini, a respeito da qual não há concordância na classe médica devido à dificuldade em identificar causas razoáveis ou conhecidas.

    O desconhecimento de sua etiologia ocasiona importante prejuízo na adoção de um tratamento eficaz. A Revista Brasileira de Reumatologia afirma que embora não existam alterações no mecanismo orgânico e também não haverem aparatos fisiológicos definidos, ocorrem apontamentos de especialistas para implicação de fatores neuroendócrinos, genéticos e psicológicos (2010) e ainda que a causa dessa síndrome é desconhecida (2004).

    Um dado importante apontado pela Associação Nacional contra a Fibromialgia e Síndrome de Fadiga Crônica (MYOS), a fibromialgia atinge mundialmente cerca de 2% a 5% da população adulta podendo acometer a homens e mulheres. Embora raramente, a fibromialgia também pode ocorrer em pacientes crianças ou adolescentes. Um dado importante é que pelo menos 90% desse total sejam do sexo feminino. Essa síndrome clínica crônica extremamente dolorosa que se caracteriza por dor musculoesquelética generalizada e uma diversidade de outros sintomas, dentre os principais:

    • Fadiga, cansaço excessivo e falta de energia mantidos mesmo após muitas horas de sono;
    • Dificuldade em definir quando e como iniciou o quadro de dor;
    • Maior desconforto ao final do dia, porém é possível que ocorra em qualquer horário do dia;
    • Alteração do sono, sendo fator comum a quase 95% dos pacientes;
    • Formigamento em mãos e pés;
    • Dificuldade em se concentrar por períodos mais extensos;
    • Cefaleia;
    • Síndrome do cólon irritável;
    • Distúrbios psicológicos e emocionais;
    • Aumento da sensibilidade ao toque, sendo comum que algumas pessoas não aceitem receber carinhos mais próximos como abraços.

    A fibromialgia pela ótica do(a) paciente

    O presente estudo apresenta o relato de casos clínicos, realizado com pacientes com diagnóstico de fibromialgia e dor crônica participantes voluntárias do projeto da autora intitulado de “Imersão Desatando os Nós das Minhas Emoções” e da pesquisa de campo intitulada “A fibromialgia pela ótica do(a) paciente”. O projeto “Imersão Desatando os Nós das Minhas Emoções” tem por objetivo dar voz às emoções dos participantes, através de conversas particulares e exclusivas realizadas uma vez na semana com duração média de 1 hora por meio do aplicativo de mídia social WhatsApp e/ou ligação telefônica. Em complementação, contatos diários com os participantes como forma de acompanhamento e manutenção do trabalho realizado, possibilita a experiência de sentir-se cuidado(a) e receber a atenção que muitas vezes inexiste por parte daqueles que o(a) cercam no dia a dia.

    Durante 3 meses de realização do projeto, algumas participantes declararam-se portar diagnóstico de fibromialgia e a autora observou traços em comum além de serem do sexo feminino. Tratam-se de mulheres que absorvem a demanda familiar como se a participação delas nada pudesse ser resolvido, sentem-se responsáveis pela família e isso independe da idade, é uma característica comportamental. Todas, sem exceção, sofreram traumas emocionais relacionados à infância, família e casamento. São pessoas que não gostam de expor seus sentimentos, por entenderem que estarão passando a imagem de pessoas fracas. São extremamente negativistas, olhando de forma negativa para tudo e todas as situações, do início ao final do dia encontram razões para reclamar. Nada está bom o suficiente.

    Outro fator interessante foi que, em um grupo de 10 pessoas, as portadoras da síndrome da fibromialgia eram 3, todas de uma mesma família. Investigando o histórico familiar, fez-se a descoberta que outras mulheres da mesma família apresentam sintomas mas ainda não foram diagnosticadas – mas apresentam o mesmo padrão de comportamento. Tais semelhanças motivaram a realização da pesquisa “A fibromialgia pela ótica do(a) paciente” com intuito de aprofundamento nesse caso de campo e investigação de outros pontos comuns entre as pesquisadas. A pesquisa foi realizada com um total de 15 mulheres diagnosticadas com a síndrome de Fibromialgia, com idade entre 40 e 60 anos. Foram apresentados os principais sintomas da fibromialgia, para os quais a resposta das participantes foi:

    • Sono não reparador, não dá conta de descansar (100%)
    • Fadiga (100%)
    • Falta de concentração (100%)
    • Esquecimento (93%)
    • Distúrbios gastrointestinais (93%)
    • Dor generalizada por todo o corpo por um longo período de tempo, remédio parece não fazer efeito (93%)
    • Sensibilidade a barulhos fortes (80%)
    • Depressão (86%)
    • Dor de cabeça frequente (74%).

    Experiências na infância

    Quando questionadas sobre terem vivenciado alguma experiência na infância, que tenha deixado uma marca tão dolorosa que não teve coragem de conversar com ninguém ou conversou apenas com alguém em quem tenha muita confiança, 54% afirmaram que sim. 86% confirmaram ter sofrido alguma decepção emocional com algum familiar, enquanto 80% afirmam ter sofrido algum trauma físico (acidente, agressão,etc.). Para a questão sobre trauma psicológico (abuso, agressão com palavras, rejeição, separação ou divorcio pessoal ou de alguma pessoa muito próxima) 86% responderam positivamente. 54% consideram não receber apoio da família no que diz respeito à fibromialgia e 46% afirmam o mesmo a respeito de amigos e colegas de trabalho. 86% afirmam que em algum momento alguém duvidou de seu relato de dor, acusando-as de exagero ou frescura.

    As mulheres entrevistadas nessa pesquisa, majoritariamente sentem-se um fardo para aqueles que as cercam. Muito se deve a forma com que são tratadas, porém é nítido o abalo emocional causado pela fibromialgia. Um sentimento de impotência é inevitável ao se recordarem de o quanto eram produtivas e independentes antes da fibromialgia e como de uma hora para outra dependem de ajuda até mesmo para necessidades básicas como ir ao banheiro. Além das dificuldades físicas e emocionais causadas pela fibromialgia, muitos pacientes ainda enfrentam problemas financeiros, pois na maioria dos casos as limitações físicas e dores generalizadas impedem de trabalhar.

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    Apesar de ser uma síndrome severa, incapacitante e incurável, a fibromialgia por si só não é fator determinante para garantir uma aposentadoria ao trabalhador. É necessário comprovar a existência da doença através de uma perícia médica no INSS para que seja aprovado um auxílio-doença por incapacidade temporária ou em casos mais graves, aposentadoria por incapacidade permanente. Wrigt (2021) afirma que é mais fácil o INSS conceder o auxílio-doença por incapacidade ao portador de fibromialgia do que a aposentadoria por invalidez. Quando não conseguem a aprovação de um benefício do INSS são forçadas a continuar trabalhando mesmo sem condições físicas e emocionais para tal, do contrário não terão recursos financeiros para seu sustento. Isso acaba gerando um desconforto ainda maior, visto que passam a depender economicamente justamente daqueles que não dão crédito à sua dor.

    Imersão Desatando os Nós das Minhas Emoções

    Foi ofertado às entrevistadas a oportunidade de participarem também da Imersão Desatando os Nós das Minhas Emoções. Durante as sessões, que ocorreram uma vez por semana no período de um mês, essas mulheres desabafaram sobre suas experiências traumáticas, em especial aquelas ocorridas na infância dom seus familiares e pessoas de seu convívio íntimo, bem como as experiências da vida adulta, relacionamentos amorosos e profissionais. Essas mulheres foram submetidas a diversas experiências traumáticas, como:

    • Abandono afetivo dos pais, em alguns casos sendo criadas por suas avós durante a primeira infância até início da adolescência;
    • Dificuldade financeira, chegando a passar fome;
    • Agressões verbais;
    • Agressões físicas;
    • Abusos sexuais na infância, na adolescência e na vida adulta, já casadas, abusadas por seus cônjuges;
    • Forçadas a assumir responsabilidade de cuidar de irmãos mais novos como se fossem seus filhos;
    • Maus tratos por parte dos familiares seja por ciúmes ou preconceito;
    • Forçadas a sempre resolver os problemas de todos à sua volta;
    • Severamente criticadas, diminuídas e desvalorizadas;
    • Vítimas de relacionamentos abusivos e traições.

    Viram suas vidas e projetos desmoronarem mediante diagnóstico de fibromialgia. Aquelas que não foram abandonadas por seus companheiros, passaram a ser tratadas de forma depreciativa como se tivessem que se submeter a qualquer coisa para desfrutarem do privilégio de continuarem casadas. Houve também relatos de descaso e descrença por parte dos médicos quanto à veracidade dos sintomas, o que dificultou tanto o diagnóstico quanto o tratamento. Cada uma dessas experiências foi ressignificada por meio da liberação do perdão, tanto para si mesma quanto aos personagens causadores dos traumas. Como resultado imediato da intervenção, essas mulheres afirmaram sentir leveza e bem-estar.

    A liberdade do perdão

    Relataram que após a liberação do perdão já não se sentiam aprisionadas e torturadas pelas lembranças, como se houvesse sido tirada de seus ombros um enfadonho fardo. Elas receberam diariamente mensagens de reflexão e um breve bate papo onde receberam um instante de atenção e incentivo, experiência essa que segundo as participantes as fizeram sentir-se especiais, lembradas, importantes e como consequência, lhes deu um novo ânimo. Uma das participantes afirmou que ter alguém para lhe ouvir sem julgar e apontar o dedo, como todos a sua volta, fez para ela grande diferença. Ao final das quatro semanas foi perceptível a mudança comportamental das participantes, uma genuína transformação pessoal despertando em cada uma delas.

    Foi apresentada nesse trabalho a tese de que a fibromialgia pode ter a sua origem em emoções silenciadas, derivadas de traumas emocionais ocasionados na esfera familiar, seja na infância ou na vida adulta. Para embasar tal afirmação foram apresentados os resultados de pesquisas teóricas sobre fibromialgia, dor e doenças psicossomáticas. Apesar da fibromialgia ainda ser uma incógnita para a medicina, não se pode dizer que isso se aplique a todas as áreas de estudo. Hipócrates já chamava atenção para o fato de que corpo e mente não se separam. Freud por sua vez já alertava que dor era um tema bastante complexo de ser administrado, pois não há possibilidade de interpretá-la de maneira inequívoca, especialmente quando ela está na esfera psíquica.

    Segundo Ramos (2021) o emocional e o inconsciente refletem no corpo seus conflitos de forma que a sobrecarga emocional é manifestada no corpo físico. Ela ainda afirma que portadores de fibromialgia se sentem incompreendidos e se ressentem com as suspeitas das pessoas com quem convive, que são atribuídas a falta de conhecimento do grande público acerca da doença. Esse entendimento foi confirmado pelos resultados da pesquisa de campo “A fibromialgia pela ótica do (a) paciente” e também pela “Imersão Desatando os Nós das Minhas Emoções”. No histórico pessoal das pacientes portadoras de fibromialgia observa-se que tratam-se de indivíduos com grandes responsabilidades, que se cobram excessivamente por melhores resultados e não se permitem cometer erros. Julgam-se únicos capazes de resolver todo e qualquer problema daqueles que os cercam, em contrapartida se sentem sobrecarregados.

    Conclusão

    Quando suas experiências traumáticas são vivenciadas na infância, o indivíduo cresce sem uma base de referência emocional que consiste o psiquismo humano. O paciente portador da síndrome é propenso a dor, sendo este o seu sintoma principal. É possível afirmar que essa dor expressa no corpo do paciente reflete as suas inibições, bloqueios, suas emoções silenciadas e desejos ocultos. O resultado alcançado ao final das quatro semanas de Imersão foi promissor e bem sucedido. É importante considerar que para as pacientes portadoras de fibromialgia a terapia venha a se tornar permanente, tendo em vista a surpreendente melhora no quadro de saúde das pacientes.

    Esses resultados não significam que o tratamento medicamentoso ou a fisioterapia seja, dispensável, muito pelo contrário. A manutenção de cuidados multidisciplinares garante além de uma melhora pontual no quadro de saúde, com redução e até eliminação de episódios de crise, como uma melhoria também na condição geral de vida da paciente. Uma vez que ela consegue se enxergar por seu próprio olhar e não mais pelo que outras pessoas determinam que seja, essa mulher se torna mais confiante e se torna capaz de fazer melhores escolhas e de tomar decisões assertivas para sua vida.

    Referências bibliográficas

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    Este artigo sobre fibromialgia, o que é, sintomas da fibromialgia e suas causas emocionais foi escrito pela autora Maíra Santos O. Araújo, concluinte da Formação em Psicanálise.

    One thought on “Fibromialgia: o que é, sintomas e causas emocionais

    1. Mizael Carvalho disse:

      Excelente trabalho, com conteúdo importantíssimos para o nosso aprendizado! Parabéns!

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